Minha professora de português passou a tarefa de escrever um poema sobre um tema de minha preferência. Já que sou um procastinador nato, me atrasei pra escrever. Não sobrando outra opção, tive que me basear em outro conto, escrito por outro aluno de outra escola.
Em comum entre os dois contos: o local (cafeteria) a presença de um amigo, e uma carta.
Segredo de Cafeteria
Posso sentir o cheirinho de café logo pela manhã. Lembro-me de ouvir a conversa das pessoas enquanto esperava. Esperava por algo, ainda não sabia o que era, mas eu esperava. Talvez uma mulher, uma dessas que usam roupa de academia, ou talvez uma paixão, dessas que preenchem a alma.
Sentado perto da porta, sempre conseguia ver as pessoas entrarem e sairem da cafeteria. Eu tenho o incrível dom de me apaixonar instantemente por todas mulheres que vejo. Mas entre todas que entravam na acafeteria, só um entrou em minha vida. Viu que meu café já tinha acabado, e pagou um café pra mim. Como ousa, um homem pagar café pra outro homem? Deixando de lado os preconceitos, perguntei o nome dele... Artur...
Não demorou muito pra eu perceber sua tristeza. Ele era vazio por dentro. Andava por aí igual aqueles fantasmas, se tirássemos o lençol, não haveria nada dentro.
Talvez eu devesse ser amigo dele, fazer companhia, tirá-lo da solidão.
Nunca combinamos nada, mas parecia combinado: todos os dias, as 8:30 da manhã, íamos nós dois pra cafeteria. Nas manhãs mais alegres, ele comprava café quente e conversava até esfriar, depois tomava gelado. "Quem não gosta de café gelado, não sabe o que é gostar de café" dizia ele. Nas manhãs tristes, bebia chá e falava de amor. Mas durante as tardes, noites e madrugadas eu não falava com ele, nem sabia seu paradeiro. Era um mistério.
Até aqui, você já deve ter percebido que estou conjulgando os verbos no passado...pois sim, algo trágico aconteceu. Ele ficou no passado. Ele virou passado. Mas talvez meu erro seja pensar mais no passado do que no presente...tudo que tenho agora é o presente, o mais simples presente que alguém pode deixar: uma carta. Quem, na era da internet, ainda escreve cartas? De qualquer forma, é melhor eu abrir, pois só escrevemos em cartas aquilo que é ruím demais pra se dizer pessoalmente.
Já com a carta aberta em minhas mãos, tive certeza que era dele. Existe algo mágico quando se abre uma carta, é como se eu vesse ele refletido em sua própria caligrafia, em suas letras tortas e incompreensíveis. E assim, mesmo sem nunca ter visto a letra dele, mesmo sendo uma carta sem selo, pude sentir que ele a escreveu.
Uma carta pequena, de cinco palavras apenas. Estas palavras, que juntas formavam um Segredo, um segredo que deve ser seguido todas as manhãs, com o máximo de pessoas diferentes possíveis. O segredo que ele já seguia, mas deixou de seguir quando me conheceu e isso o matou. Um segredo barato e escuro, mas que exige coragem. Um segredo de cafeteria.
"Pague um Café pra alguém".
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